Primeiramente, para deixar claro, o objetivo desse texto não é defender o lojista, ou determinar quanto deve ser avaliado um veículo por uma loja, mas deixar de forma mais clara o motivo da diferença que existe entre o preço da avaliação de um lojista e o valor da tabela Fipe, para quem não tem tanto conhecimento do mercado.
Em segundo lugar, quem tem como objetivo apenas apurar o máximo do valor de um veículo em uma venda, não faz sentido vender o carro para uma loja ou colocá-lo como forma de pagamento em uma troca em loja ou concessionária.
Porém, para apurar o máximo valor na venda, o método mais tradicional é anunciando o veículo em classificados e vende-lo para algum cliente final, que demanda tempo, paciência e assumir certo risco.
Existem aquelas pessoas que gostam de vender carro, que tem mais de conhecimento do produto e do mercado, mas grande parte das pessoas não tem tempo, paciência e nem conhecimento para realizar todo esse processo.
Vender um carro no mercado final demanda tempo para tirar fotos do veículo, para anunciar e principalmente para atender e poder mostrar o seu carro até conseguir vende-lo.
Infelizmente, atualmente, existem bandidos que aproveitam do alto valor da negociação de um carro, da necessidade de quem está vendendo, e da falta de conhecimento, para aplicar golpes, e são diversos tipos de golpes.
Mesmo quando conseguimos sair da mira dos golpistas, recebemos diversas mensagens no telefone, ligações em horários ruins, curiosos que mandam proposta e somem, propostas de trocas que não fazem sentido, temos que combinar com estranhos para mostrar o veículo, as vezes gera dúvida e medo na parte de documentação e pagamento. Enfim, vender um carro no mercado final demanda tempo e muita paciência, e para muitos, tempo é dinheiro, e muito.
Para quem não está disposto a passar por tudo isso e tem como objetivo ter mais segurança, agilidade e menos burocracia, ao vender seu veículo, sabendo que abrirá mão de parte do valor em troca desses benefícios, é comum recorrer a lojas ou concessionárias para vender seu veículo à vista ou colocá-lo como parte do pagamento em um veículo novo.
Então, se meu veículo vale 30 mil na tabela e o lojista o avaliou para compra ou troca em 20 mil reias, estou vendendo por menos de 30% do valor da tabela Fipe para ele obter lucro de 10 mil reais no meu carro?
Na realidade essa conta não é tão simples assim.
Uma loja de carros, assim como uma lanchonete, um salão de beleza, escritório de advocacia, uma indústria, um prestador de serviço, um médico, dentista, ou qualquer outra empresa, visa faturar para pagar seus custos e despesas e obviamente obter lucro, para fazer sentido acordar de segunda a sábado para trabalhar, cumprir seus deveres e obrigações, e assumir todos os riscos e dificuldades que é empreender no Brasil.
“Ah, mas existem lojas de carro que não trabalham de forma correta, enganam clientes, não dão suporte no pós venda, não pagam impostos…” Sim, assim como em qualquer outro ramo, existem empresas que trabalham de forma correta e outras não, mas para continuação do nosso exemplo vamos considerar uma loja séria, idônea e que honre com seus compromissos.
O lojista ao comprar um carro usado para o estoque, está adquirindo um ativo e tem uma série de deveres e obrigações.
Primeiro ao comprar um carro usado para o estoque ou absorver na troca, ele está dispondo do seu capital, que poderia ser investido em outra coisa, para assumir todo o risco da operação que é comprar e vender um veículo usado. E quando o lojista pega o carro, é no estado em que se encontra, quem vende não tem obrigação de dar garantia mecânica ou demais itens do veículo.
1- Antes de realizar a compra do veículo, lojas de procedência, costumam realizar um laudo cautelar no veículo a ser comprado, o qual uma empresa especializada verifica toda a estrutura do carro, seus itens de verificação e originalidade, garantindo que aquele é um veículo integro. O custo aproximado desse laudo é de R$300,00.
2- Comprando o veículo, obrigatoriamente o lojista precisa fazer a transferência de propriedade do veículo, tirando o carro do nome do antigo proprietário e passando para o nome da loja, esse processo, com despachante e taxas, em Minas Gerais fica em torno de R$500,00.
3- É normal quando o lojista ao compra um carro usado para o estoque, o carro tenha coisas para serem arrumadas.
Ralados nos parachoques e pelo menos na um par de pneus, já no fim, ou próximo da vida útil, são os mais comuns.
Considerando que o carro tenha ralados nos dois parachoques e dois pneus ruins. O custo aproximado da pintura de dois parachoques fica em torno de R$1.000,00 (o valor pode mudar muito de acordo com região, modelo do carro e tamanho da peça). O preço de 2 pneus, já montados, com alinhamento e balanceamento também fica em torno de R$1.000,00.
4- Geralmente os lojistas ao colocarem o carro em seu estoque, realizam no carro um polimento para revitalizar a pintura, higienização do interior, lavagem do chassi, para que o carro possa estar bonito e limpo para ser vendido para o próximo dono. Esse tipo de serviço tem o custo aproximado de R$700,00.
5- Antes de colocar o veículo em estoque é comum fazer ao menos uma revisão básica de troca de óleo e filtro, para ter controle da manutenção e minimizar possíveis gastos no pós venda. Valor aproximado R$300,00 (Varia muito de acordo com o veículo).
6- É comum as lojas pagarem comissões aos seus vendedores, obviamente cada loja pratica uma política, mas nesse exemplo vamos considerar a comissão de R$400,00 para o vendedor.
7- Para vender seus carros, as lojas precisam anunciar seus veículos terem exposição e o cliente chegar até ela.
O custo dos anúncios costumam ser pacotes fechados para todo seu estoque. Considerando uma loja que tenha cerca de 20 veículos anunciados em pelo menos 6 dos principais classificados, esse custo total deve ficar em torno de R$4.000,00 reais mensais.
8- A loja deve ainda pagar os imposto da venda do veículo e do faturamento (ICMS, PIS, COFINS, CSLL e IRPJ)
9- Além de também ter todos os custos comuns a toda empresa, como aluguel, água, luz, internet, telefonia, alarme, segurança, seguro empresarial e custos com funcionários. Esse custos variam muito de acordo com localização, tamanho e modelo de loja, não vamos entrar na mérito do valor específico, mas é um valor alto e deve ser considerado no rateio do custo do veículo.
Além de ter todos esses custos, por ser um veículo para revenda, esses carros não costumam ter seguro, então ela assume o risco de acontecer uma colisão, roubo, furto, ou algo do tipo aos veículos deslocarem para realizar vistoria de transferência de propriedade, oficina de lanternagem e preparação de polimento e higienização. Obs: Já tive um veículo, avaliado em 60 mil reais na época, roubado a mão armada quando estava no processo de polimento e higienização.
Para faturar e realizar o lucro do veículo, o lojista precisa fazer a venda do mesmo, que não que dizer que será vendido necessariamente no preço de tabela Fipe, com tanta concorrência é comum os carros serem vendidos por valores um pouco abaixo.
E não acabou, por lei, toda loja de veículo deve dar garantia de 90 dias ao vender um veículo para um consumidor final. Ou seja, ela ainda é responsável por dar 3 meses de garantia mecânica de um veículo usado, que é uma máquina, que por mais que seja bem cuidado e revisado, pode dar algum problema, e costuma acontecer com frequência, e algumas vezes problemas que podem ser bem caros.
Então, um lojista ao pegar ou comprar um carro de tabela Fipe R$30.000 por R$20.000, não quer dizer que ele irá ter um lucro de R$10.000 ou próximo disso.
Mais uma vez lembramos que isso é um exemplo meramente ilustrativo para entender melhor um pouco o processo de avaliação e o que costuma ser levado em consideração em uma loja, porém cada loja segue sua forma, política de trabalho e margens, além de poder envolver diversos outros fatore na avaliação de compra de um carro usado.